Doses maiores

25 de janeiro de 2022

Mariátegui e a consaguinidade revolucionária indígena

O realismo de uma política revolucionária, segura e precisa, na avaliação e utilização dos fatos sobre os quais cabe atuar nesses países em que a população indígena ou negra tem proporções e papel importantes, pode e deve converter o fator raça em um fator revolucionário. É imprescindível dar ao movimento do proletariado indígena ou negro, agrícola ou industrial, um caráter nítido de luta de classes.

O trecho acima é do livro “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana”, de José Carlos Mariátegui, destacado por Marcelo Badaró em seu livro “A classe trabalhadora”.

Para Badaró, a elaboração do revolucionário peruano consegue:

...ao mesmo tempo, rejeitar o eurocentrismo do projeto “civilizatório” do capital e proclamar a universalidade do projeto emancipatório socialista, entendendo o vínculo necessário entre as demandas específicas dos indígenas peruanos (relacionadas à questão da terra e da exploração do trabalho, sob a égide do capitalismo em sua fase imperialista) e a luta internacional do proletariado pela revolução socialista.

Mariátegui morreu em 1930, mas sua obra permanece válida como mostra o protagonismo indígena em lutas nas mais variadas frentes. Os zapatistas liderando a última grande insurreição do século passado. Na América andina, indígenas arrancando conquistas de seus governos. Em terras brasileiras, os povos da floresta são vanguarda na luta contra o agronegócio.

Se a obra de Marx e Engels já apresentava alguns desses elementos, seu seguidor peruano usou da necessária criatividade revolucionária para a atualizar: “A consanguinidade do movimento indígena com as correntes revolucionárias mundiais é demasiado evidente para que precise documentá-la”, disse Mariátegui. Mais que as teorias, são as lutas que o comprovam.

Leia também: A revolução permanente dos povos colonizados

Nenhum comentário:

Postar um comentário