“Quem são os eleitos do Capital” é o nome de um dos capítulos da versão do “Eclesiastes” bíblico, criada por Paul Lafargue em seu livro “A Religião do Capital”. Nele se destacam os “versículos” abaixo:
– O mineiro vive entre o gás venenoso e os deslizamentos de terra; o operário se move entre as rodas e correias da máquina de ferro; a mutilação e a morte estão diante do trabalhador; o capitalista que não trabalha está protegido de todo perigo.
– Não se tira vinho de pedra, nada se aproveita de um cadáver: exploram-se apenas os vivos. O carrasco que guilhotina um criminoso priva o capital de um animal a ser explorado.
– O patrão que faz os empregados trabalharem 14 das 24 horas não desperdiça o seu dia.
– Não poupe nem o bom nem o mau trabalhador, porque tanto o cavalo bom como o mau precisam da espora.
– A árvore que não dá fruto deve ser arrancada e queimada; o trabalhador que não traz mais lucros deve ser condenado à fome.
– O trabalhador que se revolta, alimenta-o com chumbo.
– Roubar grande e devolver pequeno é filantropia.
– O capitalista, libertário fanático, não dá esmola; pois isso priva os desempregados da liberdade de morrer de fome.
– Digo em verdade, há mais glória em uma carteira recheada de notas, do que no homem carregado de talentos e virtudes ou no burro carregando legumes no mercado.
Há muito mais verdades como estas na obra de Lafargue. Mas a amostra evidencia que o Capital inspira uma das religiões mais resistentes e coerentes. Como se ele fosse, assim, uma espécie de deus. Ou diabo.
Com essas doses profanas, as pílulas entram em breve recesso.
Leia também: Eclesiastes ou a Natureza do Deus-Capital
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