Doses maiores

8 de novembro de 2022

Um grande equívoco de Marx e Engels

Em uma carta endereçada a Wilhelm Liebknecht, em fevereiro de 1878, Marx afirmou que só conseguia ver por detrás das lutas de independência nacional dos sérvios a sinistra mão do Império Russo. 

Em 1839, Engels escreveu que a “próxima guerra mundial não só fará desaparecer do globo terrestre as classes e as dinastias reacionárias, mas igualmente povos reacionários inteiros. E também isto será um progresso”.

Nas palavras de Engels, em uma correspondência de 1849, “o ódio à Rússia foi e continua a ser a primeira paixão revolucionária dos alemães”.  

As informações acima são do livro “Labirintos do Fascismo”, de João Bernardo. Estão no capítulo em que o marxista português condena Marx e Engels por cometer um de seus equívocos teóricos mais lamentáveis. 

Segundo o autor, em muitas de suas análises geopolíticas, os pais do marxismo teriam “convertido cada um dos campos das lutas nacionais em representante de uma ou outra classe social”. O alvo favorito dos ataques da dupla eram os eslavos, considerados povos “sem história”.

Tratar alguns povos como inerentemente reacionários, enquanto outros seriam vocacionados para a revolução é um equívoco sério demais para ser ignorado. E não só porque foram exatamente os eslavos que, no século seguinte, protagonizariam a primeira revolução socialista, em plena Rússia. 

Como diz Bernardo, tal posicionamento também “teria aberto a brecha teórica e prática onde mais tarde o fascismo haveria de se instalar”. Para dar um exemplo concreto, essas concepções teriam sido fundamentais para fazer Mussolini de um revolucionário socialista um ditador fascista. 

Muito grave, não? Voltaremos a isso na próxima pílula.

Leia também: A histórica tolerância dos “democratas” com o fascismo

5 comentários:

  1. Esse é um tema que quero pesquisar, muitos tem considerado que Marx e Engels não teriam errado ao entender que as lutas nacionais em países atrasados economicamente seriam retrógadas. Não sei se é isso que está tentando dizer.

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    1. O problema é que eles consideravam certos povos incapazes de lutas nacionais. Marx chegou a comemorar a anexação da Califórnia pelos americanos porque os mexicanos seriam uns indolentes. Mais para o final da vida deles, isso melhorou, mas já tinha feito muito estrago.

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    2. Isso, lembro desse episódio que comenta da Califórnia. Muito estrago, mas não para esquecer como algumas pessoas de esquerda tendem a fazer.

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  2. Vale ler com mais cautela a correspondência de Marx, vastíssima... Há inúmeros trabalhos mostrando que, ao contrário de preconceituosos, Marx e Engels estabeleceram inúmeras redes de luta, alteraram primeiras percepções truncadas, etc.

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    1. Sim, muita cautela. Grande parte dessa correspondência volumosa é valiosa. Mas há coisas ruins também. Em algumas delas, eles destilavam seus preconceitos. É o caso de uma carta preconceituosa de Marx sobre Lassalle discutida aqui: http://pilulas-diarias.blogspot.com/2018/12/os-preconceitos-raciais-de-marx.html. Mas essa mesma pílula também alerta para o caráter bem mais informal da correspondência de Marx e Engels, como se fosse papo de boteco, em que podem surgir as coisas brilhantes e as mais lamentáveis. Nas obras que ficaram para a posteridade nada disso aparece. Abraço!

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