Doses maiores

27 de novembro de 2024

Reprodução social e expropriação capitalista

Marx chamou de expropriação ao processo que separa pessoas e comunidades dos recursos e instrumentos necessários para sua subsistência.

Um exemplo clássico de expropriação foi a expulsão dos camponeses europeus de suas terras comunais, obrigando-os a vender sua força de trabalho aos capitalistas. Outro foi a escravização de negros e indígenas, transformados em mão de obra barata e abundante, utilizada, especialmente, nas grandes plantações das colônias americanas.

Mas é um grande equívoco pensar que a principal fase da expropriação capitalista ficou para trás, uma vez que a grande maioria dos camponeses já foi expropriada e a escravidão legalizada foi extinta.

Como diz Nancy Fraser, em seu livro “Capitalismo Canibal”, a expropriação é um mecanismo contínuo de acumulação e permanece como condição importante para a viabilização da exploração capitalista. A questão é que assumiu formas não reconhecidas. Tarefas domésticas e cuidados familiares, por exemplo, não costumam ser remunerados. Ainda assim, é trabalho imprescindível para o processo de geração da mais-valia capitalista.

A divisão entre produção econômica e reprodução social surgiu com o capitalismo. Essa separação sustenta as modernas formas de subordinação das mulheres e a importância social do trabalho delas fica não apenas obscurecida, como mistificada pelo conservadorismo. Reproduzir a família é muitas vezes considerado uma obrigação religiosa. Mas o deus a que serve é o do capital.  

Algo semelhante, diz Nancy, ocorre na apropriação destrutiva da natureza e na “captura forçada e contínua da riqueza de povos subjugados”. Tais relações são igualmente tratadas como elementos externos às relações entre capital e trabalho.

Mas essas outras esferas da vida humana serão tema da próxima pílula.

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