Doses maiores

15 de fevereiro de 2025

O ovo, a galinha, a gripe e o lucro

Para que servem as fábricas de sapatos? Para calçar as pessoas? Não, para lucrar com a venda de calçados. O mesmo vale para as indústrias de alimentação e de construção. Aos milhões de desnutridos e sem-tetos não basta serem humanos. Precisam ser consumidores.

Esta é a lógica do capitalismo. Sempre foi. Nem sempre isso fica tão evidente. O fetiche consumista, a ideologia dominante e a capacidade ilusionista da indústria do entretenimento conseguem esconder essa natureza fria e cruel do capitalismo. Mas vira e mexe, surgem casos que escancaram tudo.

Um exemplo assustador é o que está acontecendo com a produção de ovos nas imensas granjas dos Estados Unidos. As informações estão em um vídeo disponível na conta do Instagram do pesquisador em microbiologia Átila Iamarino.

Ele explica que os inúmeros casos de gripe aviária naquele país vêm levando ao adoecimento, morte e abate de milhões de galinhas. O resultado tem sido uma escassez de ovos que fez disparar o preço do produto no mercado.

As poucas grandes empresas do ramo contam com seguros para eventos como estes. Acontece que a indenização é paga em valores proporcionais aos que o produto teria caso chegasse aos consumidores. Ou seja, sobe o preço do ovo, sobe o valor das indenizações.

Resultado: muitos criadores estão simplesmente deixando seus galináceos adoecerem. Desse modo, conclui Iamarino, deixaram de criar galinhas para, não só criar gripe aviária, como condições para uma nova pandemia.

Ou seja, àquela velha pergunta sobre o que vem primeiro, o ovo ou a galinha, a resposta segundo a lógica capitalista é: o lucro.

A saúde pública? Que se dane.

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