No caso de Naomi, seu problema é ser xará de Naomi Wolf. Uma acadêmica que iniciou sua carreira criticando o capitalismo, mas se tornou seguidora de Donald Trump.
A coincidência dos nomes foi turbinada pelas redes virtuais. Klein passou a ter suas firmes posições de esquerda confundidas com as de Wolf. Difícil imaginar algo mais assustador.
Mas isso só pôde acontecer porque Wolf espelha e distorce sua retórica antissistema para defender posições de extrema-direita. Não à toa, o título complementar do livro de Klein é “Uma viagem através do Mundo-Espelho”.
Em um trecho, ela diz que estamos vivendo em:
... um mundo refletido num espelho no qual a sociedade é dividida em duas e cada lado se define como o oposto do outro: o que quer que um lado diga e acredite, o outro parece forçado a dizer e acreditar exatamente o oposto.
Àquilo que chamamos de “polarização política” Naomi dá um caráter mais preciso ao tratá-la como espelhamento.
O espelhamento é uma especialidade fascista. Foi assim quando Mussolini imitou métodos de agitação que aprendeu quando era militante do partido socialista italiano. O mesmo aconteceu quando a palavra “socialista” foi incluída no nome do Partido Nacional-Socialista alemão.
A extrema-direita espelha e distorce os valores socialistas para instrumentalizar a justa ira dos trabalhadores contra sua situação social em favor do capitalismo.
Quebrar esses espelhos é um dos nossos grandes desafios.
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Lembrei do filme do Krzysztof Kieslowski, "A dupla vida de Véronique". São duas mulheres, uma francesa e outra polonesa que tem o mesmo nome com a forma de se escrever na língua de cada um desses países. Faz tempo que vi, e não me lembro direito, não tem relação com o abordado em cada uma das mulheres que cita no seu texto, se não me falha a memoria está mais para o místico, mas tem uma trama de manipulação. A questão dos duplos é sempre algo que nos instiga de muitas formas, esse nosso outro que pode ser igual, complementar ou oposto.
ResponderExcluirA Naomi cita alguns casos na literatura, cinema, etc. O médico e o monstro, por exemplo, ou barbeiro que era sósia do ditador no Grande Ditador. É um tema fascinante mesmo, mas a tendência são as fantasias com idênticos na aparência e opostos na essência. Valeu!
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