Doses maiores

3 de abril de 2012

Mais respeito com Demóstenes

Há um cheiro de injustiça no ar. São inegáveis os serviços prestados por Demóstenes Torres à elite brasileira. E não é necessária a escuta de ligações telefônicas para que isso fique claro. Em março de 2010, ele afirmou publicamente que o estupro de escravas negras aconteceu “de forma muito mais consensual”.

Estava em debate a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. A proposta final ficou a cargo do senador goiano. E ele fez sua parte. A versão aprovada acabou com as cotas na educação, serviço público, empresas e partidos políticos. Programas de saúde pública voltados para a população negra também ficaram de fora.

Deve ser por isso que antes do escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira, o ilustre parlamentar recebeu tanto apoio. Ele chegou até a escrever o prefácio do livro “Ficha Limpa: a Vitória da Sociedade”. Obra lançada por Ophir Cavalcante, presidente da respeitável OAB. Um trecho do texto diz que a sociedade:
...não admite que os destinos da nação possam ser geridos por representantes que não possuem conduta adequada à dignidade das relevantes funções públicas.
No fundo, ele tem razão. As funções públicas do parlamento nem são tão dignas assim.

Até o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) entrou na dança. Há anos, a entidade costuma apontar Demóstenes como um dos "Cabeças do Congresso". Mas admitamos, um congresso como este merece as cabeças que tem.

No mais, tudo continua a correr tranquilamente. A Lei Geral da Copa foi aprovada, mesmo contendo medidas que proíbem greves. A votação do Código Florestal deve ser adiada para depois da Rio+20. Passado o badalado evento ecológico mundial, deve ficar mais fácil aprovar uma legislação de acordo com o que quer a bancada da motosserra.

É muita ingratidão.

Leia também: Um racista escreve a lei contra o racismo

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