Doses maiores

1 de agosto de 2013

A milenar ecologia indígena

Excelente a reportagem “Vozes dos povos da floresta”, de Bolívar Torres, publicada no caderno “Amanhã” de O Globo, em 30/07. Principalmente, quando apresenta algumas informações de Pedro Cesarino Niemeyer, autor do livro “Quando a Terra deixou de falar”, que reúne cantos da mitologia do povo marubo, do Amazonas.

Segundo Cesarino, “no Brasil atual fala-se pelo menos 180 línguas indígenas (...). Partindo do princípio de que cada uma delas contém um mundo e uma estética próprias, é possível imaginar a diversidade poética espalhada pelo país”.

Mas o que unifica essas visões, diz Cesarino, é o que muitos antropólogos chamam de “perspectivismo ameríndio”. Trata-se da:

...ideia de que o planeta é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não humanas — todas dotadas de pontos de vista, de consciência e de cultura. Ao contrário da lógica ocidental, o homem não é a medida de todas as coisas, e muito menos o dono do mundo. A natureza não é nem unificada nem mostrada de forma objetiva. Trata-se de uma relação entre sujeitos, e não do tipo sujeito-objeto.

Desse modo, para o povo marubo, o rio:

“... não é apenas um reservatório de água, é a morada em que vive o povo subaquático. Você não pode poluir o rio ou abusar da caça, com o risco de sofrer retaliação. O conceito de sustentabilidade está no cerne da cultura ameríndia”.

E o pajé ainda avisa que “não se pode caçar o povo do mato indiscriminadamente, porque sabe que o chefe do povo do mato pode se vingar de nós”.

São estes povos que o agronegócio considera atrasados e rudimentares!

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