Doses maiores

5 de dezembro de 2013

A luz de Jenny à sombra de Marx

Em “A Sagrada Família”, Marx disse que o progresso da mulher e de sua liberdade mostraria o grau em que “a natureza humana” é capaz de triunfar sobre a bestialidade. Se Jenny Marx já vivesse em uma sociedade capaz desse tipo de avanço, certamente não estaria reduzida ao papel de esposa do genial revolucionário alemão.

De grande capacidade intelectual, Jenny não apenas transcrevia os ilegíveis garranchos de Marx, como ajudava a corrigir possíveis erros teóricos. Quando possível, cuidava da correspondência com militantes da Internacional Socialista. Só não fez mais pela teoria revolucionária porque as terríveis restrições econômicas a empurraram para os afazeres domésticos.

Recaiu principalmente sobre ela os muitos sacrifícios que implicavam ser a esposa de um teórico tão genial quanto genioso. Tão inteligente como incapaz de garantir o próprio sustento. Mas Jenny não se sacrificou apenas por amor ao companheiro. Ela também era apaixonada pela causa socialista. E sabia que a obra do marido seria fundamental para a luta por igualdade e justiça social.

Nada desculpa os muitos sofrimentos que Marx impôs a Jenny. Incluindo um filho com a empregada, cuja paternidade foi assumida por Engels. Mas ela jamais o abandonou porque o amor jamais os deixou. Entre si, pelas filhas e pela revolução. Quando ela morreu, Engels previu que Marx logo sucumbiria. De fato, quinze meses depois, ele morreria solitário e triste.

O livro “Amor e Capital”, de Mary Gabriel, faz um pouco de justiça a esta grande mulher. Apesar de viver sob a imponente sombra de seu companheiro, Jenny tinha tanta luz própria quanto gigantes como Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin.

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