Doses maiores

9 de agosto de 2016

O Pokemon e outras formas de ser caçado

Em 25/07, o Blog da Boitempo publicou “Pokémon Go: temos que resistir”, interessante texto de Sam Kriss.

O marxista inglês começa afirmando que é importante ficar atento a fenômenos como a recente febre da caça às pequenas criaturas animadas. Como marxistas, diz ele:

...devemos estar interessados em mudar o mundo. Não apenas alterar políticas de Estado ou substituir uma classe dominante por outra, mas transformar a própria experiência humana da realidade – passar de uma experiência alienada para uma de liberdade.

No caso do Pokemon, Kriss questiona a afirmação de que o game leve a um processo de infantilização de seus praticantes. Afinal, diz ele:

A verdadeira brincadeira das crianças figura o mundo como uma aventura; é a própria experiência sensível que é reconfigurada, e revela dimensões inusitadas ao passar por regimes sucessivos de signos. No Pokémon Go só há uma: todas as rotas já estão determinadas, todas as eventualidades estão esquadrinhadas, e todos os pontos de interesse estão marcados e são imutáveis. Não há nem a possibilidade de um passeio puramente desinteressado uma vez que o Pokémon Go cria seu mapa e seu território ao mesmo tempo.

Ou seja, o Pokémon estaria em oposição diametral à inquietação criativa da infância. Na verdade, essa perseguição guiada por telas de celular transforma-se em busca cega, cujo controle foge ao perseguidor.

Mas a mesma suspeita deveria recair sobre outras atividades que costumamos valorizar. Por exemplo, as horas dedicadas a assistir filmes, séries, novelas, esportes, reality shows. É muito provável que nesses momentos e ao contrário do que nos quer fazer acreditar o Pokemon, sejamos nós os caçados.

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