Doses maiores

1 de fevereiro de 2019

As famílias como hospedeiras de fake news

Em 20/04/2018, a BBC divulgou pesquisa feita pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP. O levantamento identificava grupos de família como principal canal de notícias falsas no WhatsApp.

Mas a mesma matéria cita outra pesquisa interessante. Em seu mestrado, o jornalista Marcelo Garcia, da Fiocruz, estudou a circulação de notícias falsas relacionadas à epidemia de zika em 2015 e 2016.

Neste caso, as famílias também foram consideradas importantes na disseminação de falsidades e imprecisões grosseiras sobre a doença. Garcia chegou à conclusão de que os boatos tinham três "grandes critérios":

1) o desconhecimento em torno da própria doença; 2) a desconfiança em relação às autoridades políticas e a falta de confiança no sistema de saúde no Brasil, de que o sistema daria conta da epidemia; 3) a desconfiança em relação à ciência em geral.

Mas, muito provavelmente, há um forte ceticismo também em relação a instituições como imprensa, governos, partidos, sindicatos etc.

Essa descrença generalizada no espaço público levaria as pessoas a se voltarem para o círculo familiar. Um lugar que tende ao conservadorismo e onde crenças pessoais valem mais que fatos objetivos.

Não à toa, o fascismo procura “biologizar” a vida social, absolutizando laços de sangue e naturalizando funções sociais. Esposas se calam diante de maridos. Filhos, diante dos pais. Casais, só os heterossexuais.

Uma das possíveis soluções passaria pelo fortalecimento das instituições. O problema é que quase todas elas realmente merecem o desprezo das maiorias sociais. São verdadeiras fortalezas de interesses minoritários e particulares. Assim, mais do que reformá-las, seria preciso destruí-las para dar lugar a outras, radicalmente populares e democráticas.

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