Doses maiores

27 de fevereiro de 2019

Tempos da aceleração sem sentido (2)

Em 04/02/2019, Jean-Claude Guillebaud publicou artigo no portal “La Vie”, sobre “A grande inquietude contemporânea”.

Para o jornalista e escritor francês, as mudanças por que passamos nos últimos trinta anos, por sua “amplitude e, especialmente, sua velocidade, foram suficientes para deixar todos atordoados”. Elas teriam acontecido “mais rápido do que o pensamento”.

Para o articulista:

...o colapso do Império Romano, o Renascimento, o Iluminismo ou as duas Revoluções Industriais, deram origem a outro mundo. Mas nós ainda temos dificuldades, por enquanto, para ler o atual turbilhão planetário.

Vivemos “às apalpadelas”, continua Guillebaud:

Vivemos, pela força das circunstâncias, num universo impensado, o que não significa que seja impensável. Essa opacidade faz nascer em nós mais terrores obscuros do que esperanças, mais medos instintivos do que confiança, e mais perguntas do que (...) a nossa inteligência é capaz de apreender.

Ainda segundo o texto:

As disciplinas do conhecimento, como a sociologia ou a filosofia, não tiveram tempo, por assim dizer, para forjar os conceitos que possibilitariam compreender essas mudanças. E para exorcizar a ansiedade que elas inspiram.

“Nosso entendimento do mundo não está ‘em pane’. Está atrasado”, conclui Guillebaud.

Muito interessante. Mas corre o risco de sugerir que basta que o conjunto do conhecimento humano alcance a velocidade da vida contemporânea para dar conta de sua angustiante inquietude.

Na verdade, seria preciso encontrar um rumo radicalmente diferente para a humanidade. Um que torne possível que sejamos nós a decidir a velocidade dos acontecimentos e não o contrário.

Um passo importante nessa direção seria entender melhor qual é, afinal, o papel da tecnologia. Tentaremos fazer isso na próxima pílula.

Leia também:
Tempos da aceleração sem sentido
Sobre esquisitões e Inteligência Artificial

Nenhum comentário:

Postar um comentário