Doses maiores

21 de fevereiro de 2019

Bolsonaro e petismo num perigoso jogo de espelhos

Bolsonaro foi eleito aproveitando-se de um forte sentimento antipetista. Grande parte de sua sustentação política vem dessa imagem como reflexo negativo do petismo.

Mas é tentador enxergar outros efeitos de espelho na cena política atual. Tal como o primeiro governo petista, o atual também assume precisando se mostrar confiável para a grande burguesia.

Erroneamente, Lula era visto como sindicalista incendiário pelo patronato. O ex-capitão sempre fez pose de estatista e defensor dos servidores militares. Como o petista, ele também tem uma “fama de mal” da qual precisa se livrar.

Em 2003, Lula apresentou uma proposta de Reforma da Previdência como prova de seu compromisso com a continuidade da ortodoxia econômica neoliberal. Agora, Bolsonaro faz o mesmo.

A reforma do governo Lula atacou principalmente direitos de servidores públicos. Ótimo sinal para o “mercado”. Bilhete de continuidade no poder renovado. Provisoriamente, claro.

Se eliminar os direitos previdenciários para a grande maioria da população, Bolsonaro também poderá desfrutar de algum sossego. Verá abafadas as denúncias que pipocam sobre suas laranjadas e minimizadas as negociatas que vem fazendo.

Tal como os petistas passaram a conciliar com a velha classe política sob pretexto de continuar no poder, Bolsonaro não consegue esconder sua ligação com o que há de mais velho na política. De torturadores corruptos a corruptos torturadores.

Assim funciona o grande show ilusório da dominação capitalista. Mas se o jogo de reflexos petista era menos enganoso, o atual é como o daquelas salas espelhadas dos parques de diversão. Diante das múltiplas imagens falsas que distraem o público, poucos notariam caso um incêndio começasse a devorar tudo à sua volta.

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