Doses maiores

10 de novembro de 2020

O conluio chinês entre burocracia e capital privado

Em seu livro “China: Um capitalismo burocrático”, Au Loong Yu caracteriza o sistema chinês como uma variante do capitalismo burocrático, porque, além das características comuns que compartilha com o capitalismo autoritário de Estado, ele apresenta peculiaridades próprias.

Pode-se até dizer que a burocracia privatizou o estado, diz o autor. Nas décadas de 1980 e 1990, continua Au Loong, o surgimento dos capitalistas privados fez muitos críticos ao regime acreditarem que eles se tornariam a vanguarda das lutas democráticas chinesas. Estavam totalmente equivocados. Desprezaram um fato fundamental: os capitalistas privados devem sua própria existência ao partido.

Esta é a razão pela qual os capitalistas privados não levantam um dedo contra a ditadura de partido único. Ao contrário, os mais ambiciosos procuram ingressar no partido, tornar-se deputados no Congresso do Povo ou, mais importante, manter um relacionamento amigável com os mandarins do poder.

Já os líderes do partido acumularam suas fortunas em empresas estatais, sem possuí-las nominalmente. Se esse tipo de corrupção não é exclusivo da China, sua implantação em tal escala certamente o é.

É também aqui que aparecem as diferenças entre um país que passou por uma revolução social e os países capitalistas autoritários que não o fizeram.

Aqueles que consideram a economia estatal necessariamente mais progressista do que a economia de mercado ignoram que ambas convergem em seus objetivos maiores: ganhar dinheiro para os mandarins e para os acionistas privados.

O conluio entre essas duas frações de capital é tão forte que ou elas prosperam juntas ou caem juntas. Na luta de classes, não estão ao lado dos trabalhadores e outros setores dominados.

Continua...

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