“Sobre as mulheres cientistas” é o nome de um dos capítulos do livro “O Amanhecer de Tudo”, de David Graeber e David Wengrow. Nele, nossos autores dizem que as mulheres foram responsáveis por grande parte do trabalho intelectual e braçal nos primeiros experimentos humanos na manipulação de vegetais.
Muito pouco do que foi feito culturalmente com plantas sobrevive desde os tempos pré-históricos, afirmam. Mas onde existem evidências, elas apontam para fortes associações entre mulheres e conhecimento baseado em plantas. E não apenas como atividade prática, mas também no desenvolvimento de formas abstratas de conhecimento.
Tecidos, cestaria, redes, esteiras e cordames foram muito provavelmente desenvolvidos em paralelo com o cultivo de plantas comestíveis, o que implica também o desenvolvimento da matemática e geometria envolvidas em tais ofícios.
Em vez de campos fixos, elas exploravam solos aluviais nas margens de lagos e nascentes, que mudavam de local de um ano para outro. Em vez de cortar madeira, arar campos e carregar água, elas encontraram maneiras de “persuadir” a natureza a fazer grande parte desse trabalho por elas. A sua não era uma ciência de dominação e classificação, mas de dobrar e persuadir, nutrir e adular, ou mesmo enganar as forças da natureza, para aumentar a probabilidade de garantir resultados favoráveis. Seu "laboratório" era o mundo real da flora e fauna. Um modo de cultivo muito bem sucedido.
As mulheres neolíticas, concluem Graeber e Wengrow, transformaram um mundo sem laboratórios em um mundo em que os laboratórios estão potencialmente em todo e qualquer lugar.
Em tempos de colapsos ambientais, imprescindível resgatar o enorme potencial desse modo feminino de ecologia.
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