Em 1948, Lévi-Strauss publicou “Família e Vida Social entre os Nambikwara”, sobre os indígenas que habitam o noroeste de Mato Grosso. No livro “O Amanhecer de Tudo”, David Graeber e David Wengrow descrevem como o grande antropólogo e filósofo se surpreendeu com a maturidade política daquele povo. Com a habilidade de seus chefes em dirigir a comunidade e tomar decisões rápidas em situações de crise, desempenhando com competência e sofisticação o papel de mediadores e diplomatas.
Os autores admitem que vários estudos demonstram que os humanos herdaram de seus ancestrais símios uma tendência instintiva para a dominação e submissão. Mas o que torna nossas sociedades diferentes, dizem eles, é exatamente a capacidade de tomar a decisão consciente de não agir assim.
Aristóteles estava certo quando descreveu os seres humanos como “animais políticos”. E a essência da política, afirmam Graeber e Wengrow, é a capacidade de refletir conscientemente sobre as diferentes direções que uma sociedade pode tomar e de apresentar argumentos sobre por que ela deve seguir um caminho em vez de outro.
Cerca de 6 mil anos separam o surgimento dos primeiros lavradores no Oriente Médio e o aparecimento do que seriam os primeiros estados. Nesse meio tempo, claro que surgiram relações fortemente hierárquicas em sociedades agrícolas, mas também muita resistência a elas.
Na década de 1960, o antropólogo francês Pierre Clastres escreveu sobre sociedades indígenas que são contra o Estado, mas não são apolíticas. Nelas, ser chefe é mais um fardo que um privilégio. Muitas responsabilidades, poucos benefícios. Não adianta dar ordens. É preciso convencer.
Ou seja, comparados aos povos europeus, são extremamente politizados.
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