Engels usou os iroqueses como exemplo do comunismo primitivo em sua obra “A Origem da Família, Propriedade Privada e Estado”, de 1884. David Graeber e David Wengrow dizem em seu livro “O Amanhecer de Tudo” que o conceito de “comunismo”, neste caso, se refere à propriedade comunal, particularmente de recursos produtivos.
No entanto, os autores propõem usar a palavra não como um regime de propriedade, mas no sentido original de “de cada um de acordo com suas habilidades, a cada um de acordo com suas necessidades”.
Na visão ameríndia, a liberdade individual estava ligada a certo nível de "comunismo de base", dizem Graeber e Wengrow. Afinal, pessoas que passam fome ou não têm roupas adequadas ou abrigo em uma tempestade de neve não são realmente livres para fazer muito além de se manter vivo. Já a concepção europeia-colonizadora de liberdade individual ficou inevitavelmente ligada à propriedade privada.
Na sociedade em que vivemos, a produção abundante de alimentos torna pouco dispendioso eliminar totalmente a fome, por exemplo. Mas as relações sociais vigentes não permitem. E não se trata apenas de um problema de distribuição desigual de recursos. Trata-se também de desigualdade na liberdade de acessar uma riqueza produzida por todos.
Registros antropológicos mostram que muitas sociedades na história humana permitiram que seus membros garantissem uns aos outros os meios para uma vida autônoma. Ou pelo menos assegurassem que nenhum homem ou mulher se subordinasse a outro. Na medida em que podemos falar de comunismo, dizem nossos autores, ele existiu não em oposição, mas em apoio à liberdade individual.
Comunismo primitivo? Pode até ser, mas muito sofisticado.
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