Doses maiores

1 de fevereiro de 2022

Uma nova história da desigualdade

“O Amanhecer de Tudo: Uma Nova História da Humanidade” é a tradução livre do título de um livro publicado em 2021. Ainda sem tradução do inglês, a obra do antropólogo David Graeber e do arqueólogo David Wengrow chegou causando muita polêmica. E talvez seja possível entender as razões disso a partir do seguinte trecho:

Está claro agora que as sociedades humanas antes do advento da agricultura não estavam confinadas a pequenos bandos igualitários. Pelo contrário, o mundo dos caçadores-coletores, tal como existia antes do advento da agricultura, era um mundo de experimentos sociais ousados, assemelhando-se a um desfile carnavalesco de formas políticas, muito mais do que as abstrações monótonas da teoria evolucionária. A agricultura, por sua vez, não significou o surgimento da propriedade privada, nem marcou um passo irreversível para a desigualdade. De fato, muitas das primeiras comunidades agrícolas eram relativamente livres de divisões e hierarquias. E negando o caráter inevitável das diferenças de classe na vida urbana, muitas das primeiras cidades do mundo foram organizadas de modo fortemente igualitário, sem necessidade de governantes autoritários, ambiciosos políticos-guerreiros ou mesmo administradores mandões.

Resumidamente, o que os dois autores procuram fazer é refutar um grande consenso entre os cientistas sociais que atribui ao surgimento da agricultura e das cidades a origem daquele que é considerado um dos maiores problemas da humanidade: a desigualdade social.

Para eles, não há provas de que houve um momento na história humana marcado por uma espécie de “comunismo primitivo”. Mas nem por isso, defendem que a desigualdade é um traço natural e inevitável das sociedades humanas. Encrenca das grandes.

Continua na próxima pílula.

Leia também: Mais lições do comunismo indígena

3 comentários:

  1. Sim, como diziam antigamente, vão ter que gastar muita saliva.

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  2. É importante ler o livro para ter uma noção de como fizeram a pesquisa. Os pontos de partida são muito interessantes, pois não é "a agricultura" ou a "cidade" que promovem a desigualdade, mas as relações sociais que se implantaram de maneira diversificada e que se desgraçadamente levaram alguns a naturalizar a desigualdade e a propriedade privada. Vocẽ fará a resenha detalhada do livro?

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    1. Vou tentar, porque é muita coisa. São mais de 600 páginas. Espero pelo menos levantar as principais questões. Mas adianto que gostei muito.

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