Certo senso comum científico afirma que grandes populações não podem funcionar sem soberanos que tomam as decisões, executivos que as colocam em prática e burocratas que as administram. Além, claro, de algum tipo de monopólio de força repressiva.
Exemplos clássicos desses arranjos seriam as sociedades do Egito Antigo. Mas no livro “O Amanhecer de Tudo”, David Graeber e David Wengrow questionam tais afirmações. O problema, dizem eles, é que as evidências disponíveis mostram que os agricultores egípcios eram perfeitamente capazes de coordenar sozinhos a gestão das águas e, na maioria dos casos, os burocratas não se envolviam nesses assuntos. Enquanto isso, muitos soberanos simplesmente não se importavam com a forma como seus súditos mantinham seus sistemas hídricos.
Na verdade, dizem nossos autores, os primeiros sistemas de controle administrativo surgiram em comunidades muito pequenas. A primeira evidência clara disso aparece em vários pequenos assentamentos pré-históricos no Oriente Médio, por volta de 7.400 aC. Mais de 2 mil anos antes do aparecimento de qualquer coisa que lembrasse uma cidade.
Ao mesmo tempo, no império Inca, por exemplo, existiam comunidades chamadas Ayllus, que tinham como uma das principais funções redistribuir terras agrícolas entre as famílias, para garantir que nenhuma ficasse mais rica do que a outra.
Segundo Graeber e Wengrow, em muitas partes do mundo e em várias épocas, surgiram iniciativas comunitárias que buscavam realizar o verdadeiro sentido do conceito de civilização. No interior ou nas franjas de grandes estados, lutavam contra o poder de reis, burocratas e exércitos, tentando promover justiça social e crescimento igualitário.
Resgatar tais experiências é apostar no melhor da humanidade.
Concluiremos na próxima pílula.
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Gostei do 1o parágrafo, realmente é o que nos fazem crer, é ruim, mas sem isso não tem ou tinha como existir.
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