Doses maiores

21 de setembro de 2023

Derrotas de baixo para cima

“A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. As melhores tradições da esquerda sempre acreditaram nessas sábias palavras ditas por Marx.

Ou seja, transformações radicais que coloquem um fim à sociedade capitalista só acontecerão a partir do rés-do-chão social.

Essa foi a inspiração daqueles que atuaram na resistência à ditadura militar, à democracia tutelada que a sucedeu e aos ataques neoliberais dos anos seguintes. Mas esse trabalho de base praticamente desapareceu no final do século passado.

Há até pouco tempo, considerávamos isso apenas um momentâneo atraso em nossas lutas. Como se os espaços que abandonamos aguardassem pacientemente nosso retorno.

Não demorou muito para que fôssemos lembrados da pior forma possível que a direita também sabe atuar no solo sujo do capitalismo.

Nos bairros pobres rasgados pela violência e desesperança, igrejas dominadas por lideranças ultraconservadoras estenderam uma rede que finge amparar, enquanto prega o pior fanatismo e elege os maiores canalhas.

Já a criminalidade, na ausência de qualquer trabalho de conscientização progressista, organizou-se, modernizou-se, adotou métodos racionais, fez da delinquência empreendedorismo.

O mesmo empreendedorismo que ONGs bem intencionadas semearam pelas periferias para que a uberização do trabalho viesse fazer sua farta colheita. No lugar da dura luta por empregos e salários dignos, a competição feroz por corridas e encomendas valendo uns poucos reais.

Por fim, nos deparamos com lideranças fascistas infiltradas nos próprios movimentos sociais, sindicatos, conselhos tutelares. Presentes em alianças que vão da vereança ao senado, do prefeito ao presidente, do fisiologismo de direita a seu equivalente de esquerda.

Mas não há como consertar nada disso pelo alto porque foi de lá que desabamos.

Leia também: Da física quântica ao trabalho de base

2 comentários:

  1. E seria por onde? A pergunta que não quer calar.

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  2. Por onde passa e sempre passou a única solução viável: por baixo, tudo de novo. Seria só mais do mesmo, se mais do mesmo realmente não fosse ficar insistindo em atalhos pelo alto, que só levam a becos sem saída, picadas com fim, garantia de fracasso.

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