Grande parte do registro arqueológico da contemporaneidade é constituída por ruínas. Nenhum outro período da história produziu tantas delas, tão diferentes e tão rapidamente, afirma Alfredo González-Ruibal em seu livro “Uma arqueologia da era contemporânea”.
Mas é melhor entender “ruína” como um verbo, em vez de um substantivo, porque trata-se de um processo, não de um estado, diz ele.
Os habitantes urbanos ocidentais costumam imaginar o apocalipse como cidades desertas, mas para muitas comunidades indígenas e camponesas em todo o mundo o apocalipse são as metrópoles lotadas. Apocalipse para essas populações é a destruição do mundo delas pelo nosso.
Eric Hobsbawm, lembra o arqueólogo, afirmou que, da perspectiva de um futuro historiador, as guerras mundiais pareceriam um acontecimento relativamente menor no século 20. O que os estudiosos de amanhã verão com mais clareza é o desaparecimento das sociedades agrárias que predominaram nos últimos oito mil anos. Os arqueólogos não precisam esperar pelo futuro. Podem compreender no presente as consequências desta interrupção fatal de sociedades que anteriormente foram extremamente resistentes.
Da China ao Peru, sistemas sociais foram dizimados pelas multinacionais do agronegócio, pelo êxodo urbano e pela modernização predatória do campo. A modernidade colonial e pós-colonial fraturou uma paisagem em padrões de povoamento que permaneceram pouco alterados durante muitos séculos.
Todo um sistema desmoronou em apenas algumas décadas: casas, arados, caminhos, celeiros, palheiros, moinhos d’água, capelas, curtumes, cercas e todos os outros elementos imagináveis que sustentavam as paisagens rurais tradicionais desapareceram num piscar de olhos, conclui.
Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que a imposição do marco temporal é mais uma tentativa de atualizar o apocalipse indígena.
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