Em seu livro “Capitalismo Canibal”, Nancy Fraser, afirma que expropriação e exploração atuam juntas e contribuem para a acumulação capitalista. A exploração transfere valor para o capital disfarçando a exploração sob uma suposta troca contratual livre. Já na expropriação, os capitalistas dispensam todas as aparências e confiscam pura e simplesmente os bens de outras pessoas, pelos quais pagam pouco ou nada. Por isso, a expropriação, longe de estar confinada aos primórdios do sistema, é um processo contínuo.
Uma das esferas em que isso acontece é a do trabalho doméstico e cuidados familiares, como vimos na última pílula. As expropriações ocorridas no âmbito da destruição ambiental constituem outra condição de fundo necessária para a produção de mercadorias e a acumulação de capital.
Já existia uma distinção entre a Humanidade, vista como espiritual, sociocultural e histórica, e a Natureza, vista como material, objetiva e a-histórica. Com o surgimento da ordem do capital, porém, essa divisão se aprofunda e o próprio planeta passa a ser canibalizado.
Mas além disso, afirma Nancy:
...ao se apropriar da natureza, o capital expropria, ao mesmo tempo, as comunidades humanas para as quais a matéria confiscada e as cercanias conspurcadas constituem habitat, meios de vida e matéria base de sua reprodução social. Assim, essas comunidades assumem uma fatia desproporcional do peso ambiental global; e sua expropriação garante a outras comunidades (“mais brancas”) a chance de se protegerem, pelo menos por um tempo, dos piores efeitos da canibalização da natureza pelo capital.
É assim que a expropriação pós-colonial se combina à destruição ambiental. Voltaremos ao tema em breve.
Leia também: Reprodução social e expropriação capitalista
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