Marx afirmava que enquanto na manufatura e no artesanato, o trabalhador se servia da ferramenta, na fábrica capitalista, ele passou a servir à máquina.
Dois séculos depois, muitos trabalhadores voltaram a usar suas próprias ferramentas. São os celulares, automóveis e outros equipamentos. Mas a jornada laboral invadiu o cotidiano e o controle da produção é um algoritmo implacável, impessoal e inacessível. A massificação operária deu lugar à atomização empreendendorista, aprofundando ainda mais a separação tanto entre o produtor e os produtos de seu trabalho, como entre os próprios trabalhadores.
Com fábricas cada vez mais robotizadas, os trabalhadores foram jogados nas ruas, onde dirigem seus automóveis, motos e bicicletas. Continuam a participar da criação de valor para o capital, mas foram expulsos dos espaços físicos da produção para se deslocarem em alta velocidade pelo fluxo consumista. Muitas vezes, com consequências fatais.
As fábricas e escritórios se esvaziaram. O trabalho está em toda parte e em lugar nenhum. Está em residências rebaixadas a oficinas, nos “coworkings” dos shoppings, em praças e ruas tornadas locais de descanso passageiro. As comunicações ganharam enorme dinamismo, mas são funcionais apenas sob o domínio de uma frenética competição selvagem e individualista. O resultado é um estado que podemos chamar de atopia. Ou seja, um não lugar.
Quando Marx e Engels escreveram que, sob o capital, tudo o que é sólido desmancha no ar, talvez, não imaginassem que até mesmo as referências espaciais se dissolveriam. Mas como na física da relatividade, tempo e espaço são contínuos, é preciso decifrar a dialética dessa materialidade para sintetizar novas forças sociais revolucionárias e emancipadoras.
Leia também: Utopia, atopia, distopia
As condições históricas para a revolução estão postas, mas precisaríamos de um Lenin com visão antecipatória e não o temos...
ResponderExcluirLênin dava às condições subjetivas papel central na vitória da revolução em relação às condições objetivas. E entre as condições subjetivas que possibilitaram a Revolução Russa estavam as que forjaram indivíduos geniais como ele, mas não apenas ele. Uma leitura mais atenta da história daquela revolução mostra que a relação entre Lênin e seus camaradas de partido era de correção mútua e não de liderados submissos e liderança incontestável. A infabilidade de Lênin é ficção stalinista.
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