O filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e brilhantemente protagonizado por Fernanda Torres, merece todos os elogios. Mais do que torcer por sua premiação, o importante é fazer com que chegue a cada vez mais plateias aqui e no mundo.
O livro no qual foi baseado é de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens. Mostra a luta de Eunice para encontrar Rubens, após sua prisão pela ditadura e, mais tarde, pela responsabilização do regime por sua morte.
Mas Eunice não restringiu sua atuação a essa batalha, por mais justa e importante que fosse. Formou-se em direito e passou a combater a política indigenista genocida do regime militar. Em 1987, ajudou a fundar o Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, organização que atuou até 2001 na defesa dos povos indígenas.
Sua disposição combativa só foi derrotada pela demência. A mulher que lutou pelo julgamento dos carrascos das vítimas da ditadura e pela preservação de sua memória tornou-se, ela mesma, vítima de amnésia.
A produção de Salles recupera a história não apenas da viúva de um grande homem, mas de uma guerreira pela liberdade e democracia.
No entanto, há muitas outras mulheres que estiveram nas mesmas trincheiras que ela. Infelizmente, muitas ficaram pelo caminho, mortas. Outras sobreviveram a prisões ilegais, tortura e violações. Mas poucas receberam o reconhecimento que merecem. Principalmente, as que estavam na liderança da resistência em favelas, periferias, quilombos, campos, aldeias indígenas e locais de trabalho. Enquanto for assim, Eunice e todas elas continuarão entre nós, inspirando, mas também exigindo, nossa permanência na luta por justiça e reparação.
Leia também: A amenidade assassina dos golpistas nacionais
Boa recuperação que fez das lutas esquecidas das mulheres na ditadura. Até mesmo Eunice foi esquecida, creio que só após o filme teve mais visibilidade a figura extraordinária dessa mulher. Pior que a amnésia de uma pessoa, esta natural, é a de um povo, esta construída socialmente.
ResponderExcluirVerdade!
Excluir