Desde o dia 21/11, quase uma centena de automóveis e ônibus queimados. Tiros contra bases policiais. Dezenas de mortos e centenas de feridos. Pânico entre a população. Mas há perguntas que disparam contra a lógica mais básica.
Os ataques são atribuídos à reação de traficantes contra as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Mas, por que atacar agora e não durante as eleições? Não seria o melhor momento para atingir o governador Sérgio Cabral, principal responsável pelas UPPs e candidato à reeleição?
Dizem que a transferência dos chefes do tráfico para fora do Rio é uma resposta à violência de suas organizações. Mas, esta não seria uma providência ágil demais para um judiciário vagaroso como o nosso? Não seria antes uma provável causa dos ataques, em vez de sua conseqüência?
A Vila Cruzeiro vem sendo o alvo principal das operações da repressão. Seria uma das localidades para onde fugiram traficantes expulsos de outras regiões da cidade. A onda de ataques não forneceria um bom pretexto para atacar a comunidade do velho modo? Ou seja, atirando e matando a torto e a direito? Usando as Forças Armadas e tropas treinadas no Haiti?
São muitas as dúvidas. Já as raras certezas são difundidas pela mídia grande. TVs, rádios e jornais não hesitam em aprovar as ações militares do governo nas favelas. Afinal, a margem de erros fatais só inclui pobres.
Outra certeza é a de que no próximo sábado começa o Campeonato Mundial Militar de Tiro, no Rio de Janeiro. Momento bastante propício para o evento. Não participe, se puder.
O mais trágico é que os moradores que nada têm com o tráfico das comunidades - a imensa maioria que lá vive - não podem escolher não participar desse campeonato de horrores, destruição e morte. É mesmo impressionante como é fácil para a "opinião pública" dar seu aval para que no quintal alheio se instale a guerra. É a medida do valor que se dá à vida dos pobres. Retrato do capitalismo mais-que-selvagem.
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