Doses maiores

24 de fevereiro de 2011

Quando o berço da história faz história

Há algum tempo, a ciência considera o continente africano o berço da espécie humana. Lugar de nascimento do único animal que faz história. Fato jamais reconhecido antes. Vejamos, por exemplo, o que dizem dois autores respeitados do século 19:


A África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento. (...) [Os povos negros] são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje.
Hegel (17701831) em seu livro “Filosofia da História”

O negro, coletivamente, não progredirá além de um determinado ponto, que não merecerá consideração; mentalmente ele permanecerá uma criança.
Richard Burton (18211890), tradutor de “As mil e uma noites”, em seu livro “Mission to Gelele, King of Dahomey”

Estas duas citações são da “História Geral da África”, lançada em 1964 pela Unesco. Trata-se de uma iniciativa muito importante. Segundo a página da Unesco:

A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.

Só agora a obra foi publicada em português. Idioma do país com a maior população negra fora da África. Mas, o pior não é isso. Foram precisos muitos séculos para que se reconhecesse ao povo africano o direito a ter sua própria história. Diante disso, mesmo a importante iniciativa da Unesco é tímida. Ainda assim, é uma obra de fôlego.

Abaixo, algumas citações do primeiro volume:

Viver sem história é ser uma ruína ou trazer consigo as raízes de outros. É renunciar à possibilidade de ser raiz para outros que vêm depois. É aceitar, na maré da evolução humana, o papel anônimo de plâncton ou de protozoário.
Joseph KiZerbo, editor da História Geral da África

 

Pode ser que, no futuro, haja uma história da África para ser ensinada. No presente, porém, ela não existe; o que existe é a história dos europeus na África. O resto são trevas… e as trevas não constituem tema de história.
Hugh Trevor-Hoper, professor da Universidade de Oxford, em palestra apresentada em 1963

 

Lineu, no século XVIII, dividia a espécie humana em seis raças: americana, europeia, africana, asiática, selvagem e monstruosa. Com certeza, os racistas se encontram numa ou noutra das duas últimas categorias.
J. KiZerbo, no capítulo “Teorias relativas às ‘raças’ e história da África”


A obra merece leitura, estudo e debate. Veio no momento certo. Exatamente quando os povos árabes do norte da África estão colocando seus ditadores porta a fora. Fazem história a queima-roupa.


Baixe a coleção na íntegra no site da Unesco.

2 comentários:

  1. http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese-1/

    Aqui está o link funcionando

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