Doses maiores

7 de janeiro de 2013

O “Estado Social” e as emboscadas capitalistas

Boaventura de Sousa Santos publicou o artigo “Estado social, estado providência e de bem-estar” no jornal português Diário de Notícias, no final de dezembro. Para ele, o “Estado social” seria “o resultado de um compromisso histórico entre as classes trabalhadoras e os detentores do capital”. Uma espécie de acordo que permitiria combinar “desenvolvimento econômico e proteção social”.

Este modelo, diz o texto, começou a receber ataques dos neoliberais “a partir dos anos 1970 até chegar a seu cume nos anos 1990”. Eram ataques ideológicos, travestidos como “uma nova racionalidade econômica”.

O artigo aponta questões importantes, mas deixa dúvidas igualmente consideráveis. A primeira delas é quanto ao tal “compromisso” entre classes. Se ele existiu, mostrou-se muito mais vantajoso para os capitalistas, que continuaram proprietários dos meios de produção. Portanto, muito mais capazes de “trair o compromisso”. Foi o que fizeram assim que possível.

Além disso, por que somente a falsa “racionalidade econômica” dos ataques ideológicos neoliberais teria força para derrubar um acordo tão vantajoso para todos? Seria muito mais lógico acreditar que o próprio “Estado social” mostrou-se incapaz de se consolidar como saída para as contradições capitalistas.

Nessa questão, tanto neoliberais como anticapitalistas revolucionários concordariam. Para uns e outros, justiça social e capitalismo são incompatíveis. A enorme diferença é que os neoliberais defendem a manutenção dos dois e os revolucionários, o fim de ambos.

Esta é a verdadeira racionalidade econômica vigente. Ela não existe apenas sob o neoliberalismo. É a própria essência do capitalismo. Querer manter este sem aquele é escolher um caminho que vai dar no beco cego em que nos esperam as emboscadas capitalistas.

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