Doses maiores

20 de fevereiro de 2014

Os black blocs e a violência revolucionária

A ação dos black blocs coloca em questão o papel da violência revolucionária. Tema que Engels abordou em uma introdução ao livro “As Lutas de Classes na França”, de Marx. Até 1848, diz o texto, os enfrentamentos entre revoltosos e o exército se davam em relativa igualdade de condições. Até então, as forças populares podiam fabricar suas próprias munições.

Mas com a produção industrial de armamentos, o poderio militar da burguesia ficou incomparavelmente maior. Desde então, diz Engels, “os poderes dirigentes” tentam atrair as forças populares para o combate aberto, apenas para transformá-las em carne para seus canhões.

Ou seja, desde meados do século 19, a derrota militar das forças da repressão teria deixado de ser fator decisivo para a vitória das revoluções. A Revolução Russa, por exemplo, começou sem enfrentamentos bélicos. As tropas do czar simplesmente se recusaram a atacar os revoltosos. Depois é que veio banho de sangue promovido pela reação conservadora.

Isso não quer dizer que os combates de rua já não joguem nenhum papel, diz Engels. Mas a inferioridade militar “terá que ser compensada por outros fatores”. Entre eles, a organização em larga escala dos explorados, muito mais numerosos que seus exploradores.

As ações dos black blocs não são necessariamente contraditórias com essa avaliação. Eles alegam que são atos simbólicos e não militares. Seus alvos são coisas, não pessoas, e procuram limitar-se à autodefesa. Mas isso também não quer dizer que suas opções estejam corretas.

É este o debate a ser feito. Passa muito longe da criminalização e do isolamento de manifestantes com quem possamos ter diferenças táticas, mesmo que profundas.

2 comentários:

  1. http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2014/02/os-black-blocs-e-violencia.html

    Eis uma resposta para o problema revolucionário. Engels aí tende a defender que se tornou mais importante ganhar as consciências ou os corações e mentes para a revolução do que fazer uso da violência. O autor do texto, Sérgio Domingues, defende os blacks blocs como sendo violentos apenas com as coisas que representam o poder do capitalismo, mas não com as pessoas. Então, cabe perguntar a ele se os que mataram o cinegrafista com um rojão eram mesmo black blocs?! Se não eram, teriam alguma relação com as milícias e/ou com a direita, até mesmo com algum serviço secreto, já que o advogado deles fez a defesa de milicianos e afirma a existência duma conspiração política que financia black blocs e com esta acusação parece estar viabilizando uma legislação antiterrorista bem ao gosto da direita?!

    Porém, qual a finalidade de ser violento com as coisas, com os símbolos do capitalismo, com as propriedades e não com os proprietários?!

    Além disso, a posição de Engels serviu ao desenvolvimento da socialdemocracia?! Ou, para além da socialdemocracia, ela possui uma serventia mais duradoura e consequente de modo que a tal democracia direta dos movimentos sociais da atualidade que tanto encantam o Augusto de Franco seria precisamente o foco do texto de Engels e, então, nesse caso, toda uma outra maneira de conceber a revolução, a prática, a relação com a representação, com o Estado, com a máquina de Estado, com o monopólio estatal da violência e também com o monopólio social da violência estaria em foco e tentando responder se é viável, desejável, realizável. Ou não é esta a conclusão a ser tirada da menção ao pensamento de Engels sobre a violência pela revolução?!

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    1. Não acho que acudados da morte do cinegrafista fossem black blocs. Se fossem, estariam de mascaras e não seriam identificados tão facilmente. Também não acho que sejam conspiradores da direita. O advogado é que parece ter se aproveitado da situação para fazer o jogo da direita.

      Se a posição de Engels serviu ao desenvolvimento da socialdemocracia? Acho que serviu, sim. Mas muitos outros trechos e escritos dele e de Marx também podem ter servido. E esta introdução, em especial, costuma ser citada pelos reformistas omitindo a importância que Engels continuava a dar às ações de rua. Recortes e descontextualizações também fazem parte da luta de classes.

      Valeu o comentário!

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