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27 de abril de 2017

Numa certa encruzilhada, Marx, Gramsci, Trotsky e Lênin

Este ano completam-se 150 anos da publicação do primeiro volume de “O Capital”, 100 anos da Revolução Russa e 80 anos da morte de Gramsci.

Esses três eventos fazem lembrar uma espécie de encruzilhada teórica onde se encontraram Gramsci, a obra de Marx e os personagens principais da revolução bolchevique, Lênin e Trotsky.

Ao saber dos acontecimentos de outubro de 1917 na Rússia, Gramsci escreveu um artigo intitulado “A revolução contra O Capital”.  O revolucionário italiano considerava a façanha bolchevique uma negação das conclusões simplistas deduzidas das leituras oficiais da obra-prima de Marx.

Segundo essa “receita”, revoluções socialistas somente seriam possíveis em nações altamente industrializadas, como Inglaterra, França, Alemanha. Países “atrasados”, como a Rússia, teriam que superar algumas etapas. Primeiro, industrialização e democracia, a cargo da burguesia. Depois, socialismo e liberdade, conquistados pelos trabalhadores.

Contra essa formulação, Trotsky dizia que se a burguesia não fosse capaz de cumprir as tarefas que lhe cabiam, o proletariado deveria assumi-las. Era a Revolução Permanente. Demorou, mas Lênin acabou concordando com Trotsky. Daí surgiu o vitorioso lema “todo poder aos operários, soldados e camponeses”.

Muito provavelmente, Marx concordaria. Em 1881, uma revolucionária russa escreveu a ele para saber se era possível evoluir da comuna rural russa ao socialismo, sem passar pelo capitalismo. Marx e Engels responderam o seguinte:

Se a revolução russa tornar-se o sinal para a revolução proletária no Ocidente, de modo que uma complemente a outra, a atual propriedade em comum da terra na Rússia poderá servir de ponto de partida para um desenvolvimento comunista.

É de saídas criativas para encruzilhadas como essas que costumam surgir as revoluções.

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