Doses maiores

19 de abril de 2017

O cerco do suicídio

Parece que o grande assunto do momento tem sido o suicídio. A série “Os 13 Porquês”, da Netflix, e um jogo macabro chamado Baleia Azul são temas obrigatórios. Ambos tratam da busca pela morte voluntária entre adolescentes.

Quase um milhão de pessoas morrem por suicídio anualmente segundo a Organização Mundial de Saúde.

No livro “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, Yuval Harari constata que, em 2002, dos 57 milhões de mortos no planeta, apenas 172 mil morreram em guerras e 569 mil foram vítimas de crimes violentos. Por outro lado, 873 mil cometeram suicídio.

O Mapa da Violência 2014 trouxe dados assustadores sobre o Brasil. Mortes voluntárias tendem a aumentar em países com melhores índices sociais. Mas nosso índice é igual ao de países como Japão, França, Suécia e Noruega: 30 por 100 mil habitantes.

Como hoje é “Dia do Índio”, não custa lembrar que o suicídio é uma pandemia entre os indígenas. Eles parecem funcionar como uma espécie de antena sensível demais para as loucuras que vêm dominando a humanidade. Principalmente, suas crianças e adolescentes.

É o que mostra o relatório sobre Violência Letal contra crianças e adolescentes no Brasil, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais. Municípios da Amazônia estão no topo da lista de suicídios entre crianças e adolescente indígenas. Em São Gabriel da Cachoeira, a taxa de 2003 a 2013 foi de 33,3% na faixa etária entre 10 a 19 anos. Em Tacuru, o índice chegou a 100%.

O suicídio é o sintoma da doença social que cerca suas vítimas. Enquanto não a combatermos, seremos parte deste cerco.

Errata: está incorreto o dado sobre o índice de suicídios no Brasil. O número real médio é algo em torno de 5 por 100 mil habitantes, não 30 por 100 mil. Esta proporção é real apenas para os crianças e jovens indígenas. Ainda assim, continua sendo um número assustador. 

Leia também: Suicídio indígena, branco e ocidental

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