Doses maiores

7 de julho de 2022

Gestão científica (e digital) da exploração

Em seu livro “A Fábrica Digital”, Moritz Altenried conta que a Companhia Siderúrgica Bethlehem iniciou suas atividades em Baltimore, Maryland, em 1916. O engenheiro Frederick W. Taylor fez uma contribuição fundamental para o sucesso da empresa.

Ele criou uma teoria de administração centrada na separação entre planejamento e execução, decomposição e padronização das tarefas e vigilância meticulosa dos operários. Mudanças cruciais para racionalizar o fluxo de trabalho, mas principalmente para tentar quebrar a resistência dos trabalhadores.

Também em Baltimore, quase cem anos depois, os 4.500 trabalhadores das duas unidades locais da Amazon ganham cerca de metade do que seus predecessores ganhavam na Bethlehem. Muitos deles só trabalham meio período e dependem de cupons de alimentação fornecidos pela prefeitura.

Os locais de trabalho são saturados de software. A produtividade de cada funcionário é automaticamente medida e comparada com a dos demais. Quem não atinge as cotas é dispensado. Anualmente, são, pelo menos, trezentos demitidos por causa de sua “baixa produtividade”.

Esse novo taylorismo não está mais vinculado à arquitetura disciplinar da fábrica clássica. De fato, a fábrica digital de hoje pode assumir muitas formas diferentes. E não apenas na Amazon, mas em companhias como Uber, Facebook, Walmart e outros gigantes do capitalismo de plataforma.

A tecnologia digital permitiu uma atualização peculiar da gestão científica da exploração do trabalho. Mas Altenried adverte que é preciso evitar proclamá-la como novidade absoluta. Ao invés disso, é importante buscar continuidades, ecos e reconfigurações dos regimes anteriores. Até para criar novas formas de resistência a partir das lições aprendidas em antigas lutas contra o inimigo de sempre: o grande capital.

Continua...

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