Doses maiores

30 de outubro de 2024

Um Marx não branco e periférico

Em 1703, aqueles sóbrios expoentes do protestantismo, os puritanos da Nova Inglaterra, por meio de decretos, fixaram uma recompensa de 40 libras por cada escalpo indígena e cada pele vermelha capturados; em 1720, fixou-se uma recompensa de 100 libras por cada escalpo; em 1744, depois que a Baía de Massachusetts declarou uma tribo como rebelde, estabeleceram-se os seguintes preços: pelo escalpo de um homem de 12 anos ou mais, 100 libras esterlinas; por um prisioneiro homem, 105 libras; por prisioneiros mulheres e crianças, 50 libras...

O trecho acima é do capítulo 24, volume 1, de “O Capital”. Foi citado no artigo Marx e os Povos originários, recentemente publicado por John Bellamy Foster, Brett Clark e Hannah Holleman. O texto demonstra como Marx denunciou firmemente toda a brutalidade do processo histórico que deu origem ao capitalismo e o mantém ainda hoje. Mas Marx também encontrou na organização social igualitária e solidária dos indígenas elementos fundamentais para inspirar a construção de uma sociedade radicalmente justa.

Não à toa, diz o artigo, Marx estudou obras como "As Raças Nativas dos Estados do Pacífico da América do Norte", de Hubert Howe Bancroft, sobre os indígenas do sudeste do Alasca e do noroeste do Pacífico. Também dedicou-se à leitura de pesquisas sobre os Delaware, Iroqueses, Mohegan, Cree, Chickasaw, Choctaw, Cherokee, Seminole, Dakota, Pawnee, Fox, Blackfoot e muitos outros povos indígenas. Sem falar nas investigações sobre a comuna russa e a história da Índia.

Ou seja, Marx foi um dos primeiros a entender que a luta pela emancipação universal da humanidade tem muito a aprender com sociabilidades não brancas e periféricas.

Leia também: Os idiomas artificiais e o extermínio das línguas indígenas

Um comentário:

  1. Boa! Pierre Clastres também realizou um trabalho de fôlego nessa perspectiva antropológica crítica, na América do Sul (A sociedade contra o Estado)

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