A sociedade capitalista é a única sociedade dividida em classes na história em que a classe dominante fez do trabalho virtude. A burguesia nasceu da plebe trabalhadora, mas é aquela pequena parte dela que conseguiu se apropriar dos meios de produção. O restante tornou-se massa proletária a ser explorada.
Essa diferenciação foi vendida como vitória de uma parte do povo sobre a outra. Mas pobres que reunissem certas qualidades e se esforçassem poderiam vencer por mérito próprio. Era o mito da meritocracia, melhor apenas que os mitos do poder e riqueza concedidos por hereditariedade ou por vontade divina.
Ou seja, na sociedade capitalista o trabalho transformou-se em razão de ser da grande maioria das pessoas, de alto a baixo. Ter um emprego, uma ocupação, uma fonte de sustento a partir do próprio esforço tem importância fundamental na vida contemporânea.
Mas o conceito de trabalho acima só tem esse sentido no capitalismo. Marx entendia o trabalho como elemento essencial da espécie humana. É através dele que transformamos a natureza e a nós mesmos. Essa condição pode atribuir ao trabalho um caráter emancipatório, desde que deixe de intermediar a exploração de uns pelos outros e justificar a opressão dos segundos pelos primeiros.
Enquanto a humanidade não conferir esse caráter libertador ao trabalho continuaremos a sofrer com suas terríveis negatividades.
O arrazoado acima é só para lembrar que todos os problemas e contradições sociais que vivemos atualmente têm origem na esfera do trabalho. São produto da luta de classes. Inclusive, disputas eleitorais como as que enfrentamos hoje contra o fascismo. O resto é conversa fiada de coach charlatão.
Leia também: A luta de classes no oco do mundo
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
24 de outubro de 2024
Trabalho, luta de classes e conversa fiada
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Boa, gostei, na lata. Ah tá, só faltou dizer que se no passado a burguesia ainda era parte do trabalho, hoje não é mais, só o explora.
ResponderExcluirNão, não. Aí é que tá. A burguesia também é a única classe dominante da história que também trabalha. Poucos membros da burguesia vivem no puro ócio. A questão é que o trabalho dela é exatamente explorar. Mas como isso não aparece desse modo, fica parecendo que todos trabalham, mas alguns trabalham mais produtivamente e, por isso, recebem mais. Este é outro pulo do gato da dominação burguesa. Bom tema pra outra pílula.
ExcluirMuito bom
ResponderExcluirObrigado, "anônimo"!
ExcluirDeixa eu dar um pitaco nos excelentes textos do Professor Sérgio (fazê-lo me concede o reforço de participar de sua inteligencia - rsrs).
ResponderExcluir1 - Lula vendeu a alma na primeira eleição : "não se preocupem, nos vamos pacificar o rebanho - silenciar sindicatos, suspender a educação popular, empregar a militância na Petrobras, vestir a camisa da hegemonia para ser compreendido como representantes do Sistema pelas gerações futuras...
2 - Mefistófelis, para quem ele vendera a alma, o esfaqueou varias vezes a traição: 1 - o mensalão foi desenhado para colocar a carapuça da corrupção na cabeça de quem mais a havia combatido (eu quase sinto o gosto na boca dos corruptos que conheço quando gritam “Luladrão”...). 2 - Derrubaram a Dilma, que não aceitou a carapuça e se manteve firmes aos princípios do caminho para o socialismo; 3 - No final, prenderam o próprio Fausto/Lula, com o objetivo de evitar que o mito se eternizasse (fazê-lo feio, ladrão, condenado, evitava mais um peronismo e um herói da classe trabalhadora).
Agora, os erros revelam seus resultados: 1 - o povo vota em Lula por simpatia e não por compreensão revolucionaria e vende o voto tão rapidamente quanto peida; 2 - o PT se tornou uma social-democracia que tenta, de joelhos, voltar a ser gerente do Capital; 3 - A conciliação de classe fez perpetuar os corruptos da maçonaria de Sarney e do PMDB, chamada agora de Centrão ou Mefistofelis, que não tem nem escrúpulos de mandar a sociedade brasileira para o paredão do fundamentalismo religioso.
5 - E o trabalho? na minha singela compreensão, essa ideia exclusiva do trabalho como exploração está vencida. A esquerda perdeu em São Paulo para o Empreendedor Marçal por não compreender isso. Não é condenar o trabalho e o empreendedorismo que deve ser a educação necessária, mas o elogio do trabalho e da luta revolucionária. Explico: a pecha de vagabundos para todo esquerdista é porque sempre condenam o trabalho ao condenar a exploração do trabalho, soa como um bêbado preguiçoso.
6 - Então, como disse lindamente o professor Sérgio neste artigo:
"Essa condição pode atribuir ao trabalho um caráter emancipatório, desde que deixe de intermediar a exploração de uns pelos outros e justificar a opressão dos segundos pelos primeiros. Enquanto a humanidade não conferir esse caráter libertador ao trabalho continuaremos a sofrer com suas terríveis negatividades."
Isso significa, ao meu entender: FAZER O ELOGIO DO TRABALHO,mesmo que seja com a ilusão do empreendedorismo, DESDE QUE ELE SEJA ENTENDIDO NO SEU CARÁTER LIBERTADOR, ou seja, colocar a educação revolucionária antes da educação empresarial ( e não temê-la) para tentar evitar que o ubermoto vote no Marçal ou o padeiro pense que é rico e vote em Bolsonaro:
7 - Mas para isso precisaríamos abrir com machadinha os velhos marxistas analógicos.
(Jorge não consegui logar)
Então, Jorge, o Lula sempre quis organizar o capitalismo no Brasil. Ser um Vargas ou JK de macacão. E pra isso, tinha que liderar o povão pra melhor conciliar com a direita. Agora, depois de todas essas porradas da burguesia nele, ele resolveu que precisa liderar toda a direita tradicional pra poder conciliar com a extrema-direita.
ResponderExcluirQuanto ao trabalho, não acho que as pessoas tenham abandonado a ideia do trabalho como exploração. Tanto é que muitas delas condenam a CLT por ver nela uma relação de exploração. E consideram que se é pra ser explorado, que sejam por elas mesmas via empreendedorismo. E aí o trabalho seria só a emancipação do perrengue pra pagar os tais boletos. Ter as contas pagas em dia, prestígio como batalhador vitorioso, poder se dar ao luxo de um fim de semana com churrasco, umas idas à praia, deixar um negócio funcionando pros filhos. Acho que é isso que muita gente quer. Ilusão, claro. Mas nossa pregação anda soando como ilusão faz tempo. Quando não é entendida como enganação, mesmo. Acho que nosso problema maior é o afastamento do mundo real dessas pessoas. A abstração de nossas intervenções. Abraço, professor Jorge.