Florestan Fernandes costumava referir-se à sociedade capitalista como “ordem social competitiva”. Um dos significados desse conceito diz respeito à mobilidade social. Isto é, seus integrantes podem mudar de classe social. Coisa muito rara nas sociedades anteriores.
Sílvio Santos é um bom exemplo de que pessoas de origem pobre podem tornar-se muito ricas. E também do fato de que a competição dificilmente é limpa. Por outro lado, o inverso também é correto. A diferença é que despencar do alto da pirâmide social é muito mais comum.
De qualquer maneira, o problema não é a competição em si. É a recompensa que aguarda o vencedor. Poderia ser o prestígio. Mas sem dinheiro, nada feito. Ou melhor, trata-se de capital: dinheiro que gera mais dinheiro. Desse modo, a recompensa nunca é suficiente e a competição nunca acaba.
Essa dinâmica explica muitos dos becos sem saída em que nos metemos. Por exemplo, porque não trocamos nossa matriz energética destruidora por recursos renováveis e menos hostis ao ambiente? Governantes, empresários, especialistas respondem: porque o custo seria muito elevado.
Faça a mesma pergunta em relação à cura de várias doenças, às reformas agrária e urbana, à diminuição dos gases poluentes, ao fim do uso dos agrotóxicos, à utilização segura da engenharia genética. A resposta vai ser parecida: os custos são muito elevados.
Traduzindo, a competição capitalista não permite. Para que a grande maioria e o meio ambiente ganhem, a minoria que fica com os lucros precisaria perder. Como ela é composta pelos vencedores, isso não vai acontecer. Pelo menos, enquanto não acabarmos com a destrutiva ordem social competitiva.
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