Um exemplo dessa lógica aparece em uma entrevista com Pat Mooney, diretor do ETC Group, ONG que monitora novas tecnologias. Ela foi publicada na revista Poli (Fiocruz), edição jan/fev/2012. Vejam o seguinte trecho:
Eu sempre ouço de investidores de risco que apenas 23,8% de toda a produção terrestre anual de biomassa do planeta está inserida no mercado global de commodities, o que significa que 76,2% não foi convertido em valores monetários. Para esses investidores, essa produção não está “sendo usada”, mas na verdade elas desempenham funções importantes no equilíbrio dos ecossistemas, ou então servem como áreas de pastoreio e cultivo para populações tradicionais, por exemplo.Pois, é. Para o capitalismo, o que não dá lucro não tem utilidade. Em época de grande crise, isso é ainda mais perigoso. É o que se pode deduzir de outra entrevista, feita por Nilton Viana e publicada pelo jornal Brasil de Fato em 20/01. O depoimento é de François Houtart, sociólogo e professor da Universidade Católica de Louvain, Bélgica.
Houtart chama a atenção para o caráter muito mais global da atual crise, se comparada à de 1929. Além disso, alerta para uma combinação de vários tipos de crises. E destaca, a crise alimentar:
A combinação da crise econômica com a alimentar é algo novo. Porém, são vinculadas. Na verdade, a crise financeira é devida à lógica do capital, que tenta buscar mais lucros para acumular capital, que é, dentro dessa teoria, o motor da economia. Se o capital financeiro é mais proveitoso do que o produtivo, ele faz a lei da economia mundial como é hoje. Assim, essa é evidentemente a lógica do capitalismo que provoca a crise financeira, que tem efeitos econômicos, porque tem efeitos sobre emprego, crédito e toda a economia. Porém, é essa mesma lógica que está provocando a crise alimentar, porque, por uma parte, há uma especulação – o preço do trigo, por exemplo, tem dobrado 100% em um ano, menos de um ano, por razões puramente especulativas.Governos, mídia em geral, empresários, ONGs oportunistas podem falar à vontade. O único verde possível sob a lógica capitalista é o da cor do dinheiro.
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