Doses maiores

20 de julho de 2012

Arte, a prostituta solteirona

Certa vez, Erwin Panofsky, crítico e historiador de arte alemão, afirmou:

Embora seja verdadeiro que a arte comercial esteja sempre em perigo de terminar como uma prostituta, é igualmente verdadeiro que a arte não comercial corre sempre o risco de terminar como uma solteirona.

A afirmação não faria sentido antes do século 19. Até essa época, não havia como a arte ser comercial ou não. Ela não tinha autonomia suficiente para escolher entre rodar a bolsinha ou passar as noites na solidão. Estava a serviço da religião e da aristocracia.

A arte como atividade independente é recente e burguesa. Como tal, nos deu muitas obras maravilhosas. Mas autonomia não é o mesmo que liberdade. Aos poucos, a criação estética foi se subordinando às leis do mercado.

Em 2004, a obra "A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo” foi comprada por 12 milhões. Ela é de Damien Hirst e consiste num tubarão de 5 metros de comprimento mergulhado em um tanque de formol.

Qual é o significado dessa obra? Só pode ser o mesmo que vale para muitas outras coisas na vida moderna. É boa porque custa caro e não o contrário. Para os bilhões de pessoas distantes desse tipo de atividade mercantil, não tem a menor importância.

O capitalismo está conseguindo transformar a prostituta numa solteirona. Vale muito dinheiro para alguns poucos. Mas nem estes, nem ninguém mais quer saber dela. O livre mercado libertou a atividade artística de suas antigas amarras. Agora, precisamos livrá-la das prisões econômicas do mercado.

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Um comentário:

  1. Genial, Serjão!!! Acho a mercantilização, ou melhor, a mercadorização da arte e da cultura um dos aspectos mais perversos da ideologia das classes dominantes. Acertou na veia!!! Mauro.

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