Doses maiores

25 de fevereiro de 2015

A ditadura de 1964 era militar e empresarial

Vito Giannotti
“A gente sabe como foi. A gente conta, escreve e prova”. Este é o lema do projeto “Contemos nossa história”, sobre a repressão da ditadura de 64 aos metalúrgicos de São Paulo. O projeto resultou num livro imperdível. Trata-se de "A Investigação Operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores.” A publicação traz dezenas de depoimentos de lideranças sindicais sobre a perseguição violenta que sofreram por parte do aparelho estatal com a generosa cumplicidade das empresas.

Um exemplo: Harry Shibata foi o médico legista que assinou a autópsia de Vladimir Herzog. Trata-se da principal peça da farsa que transformou o assassinato do jornalista em suicídio. Ele também foi médico da CIPA da Cobrasma (Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários). Policial assalariado pela empresa para assinar laudos referentes às mortes de operários que morriam em acidentes em suas dependências. Muito provavelmente, tão falsos quanto os de Herzog.

Do material de apoio do projeto, consta a reportagem de Marina Amaral publicado pela Agência Pública, em fevereiro de 2012. A jornalista entrevistou José Paulo Bonchristiano, um dos poucos delegados ainda vivos que participaram das ações repressivas durante a ditadura. Ele conta que Roberto Marinho, da Globo, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”. Ou que Octávio Frias, da Folha de S. Paulo, se oferecia para atender ao “que o DOPS precisasse”. Relata ainda que Amador Aguiar, fundador do Bradesco mobiliou a sede do DOPS, no bairro paulistano de Higienópolis.

Tudo isso mostra que o regime de 1964 foi uma ditadura empresarial-militar. Os generais tiveram apoio decisivo de corporações que continuam impunes e faturando bilhões.

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