Doses maiores

9 de maio de 2017

A informalidade do Partido Bolchevique

Mais uma contribuição mostra como é falsa a imagem do partido que liderou a Revolução Russa como uma máquina inflexível e militarizada. São trechos da biografia de Lênin escrita por Tony Cliff, ainda sem tradução do inglês.

Segundo o autor, em 10 de outubro de 1917, o Comitê Central bolchevique criou um Comitê Político para liderar a luta nos dias que viriam composto por sete membros. Entre eles, Lenin, Trotsky e Stalin.

No entanto, o órgão cuja tarefa era guiar a insurreição não se encontrou uma única vez. Aparentemente, esqueceram a resolução.

Em 16 de outubro, foi criado um Centro Militar Revolucionário, que jamais se reuniu e nunca mais apareceu nos registros partidários.

Na realidade, essa falta de formalismo era absolutamente vital para o funcionamento efetivo do partido como um corpo revolucionário, afirma Cliff.

Uma estrutura de partido super-formal, diz o texto, se chocaria inevitavelmente com duas características básicas do movimento revolucionário: a desigualdade nos níveis de consciência, militância e dedicação das diferentes partes de sua organização; E o fato de que os membros que desempenham um importante papel de vanguarda em determinada fase da luta podem ficar para trás em outra.

A verdade, diz Cliff, é que um partido revolucionário não nasce pronto para a revolução. Ele é moldado, transformado no processo da luta revolucionária e, sobretudo, na própria revolução.

Ao mesmo tempo, o partido não era uma entidade “desencarnada”, conclui o autor. As ideias do bolchevismo estavam representadas em milhares de militantes proletários forjados durante anos de luta. Só assim foi possível aos bolcheviques traduzir suas palavras em ações e conduzir uma revolução bem-sucedida.

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2 comentários:

  1. Camarada, percebo que anda lançando texto tentando desconstruir a ideia de partido monolítico, de centralismo democrático exacerbado etc. E pelo pouco que acompanho sobre o seu pensamento atual, imagino seus objetivos. Não sei se comentei, mas o do operário que se revolta contra tais decisões, achei lindo. Entretanto, não sei se resgatar um aspecto ou outro destes momentos validam uma concepção diferente do partido bolchevique. Sei que coloca de maneira relativa, mas mesmo assim acho meio improcedente. Estou zilhões de anos luz de discutir o partido bolchevique, mas o pouco que conheço não me indicam que estes aspectos sejam passíveis de apresentar uma outra face dele. Abração.

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  2. Marião, sabia que você sacaria o problema. Digamos que a prioridade agora é combater essa ideia do partido autoritário e militar principalmente porque interessa muito à direita manter essa versão que veio do stalinismo, apesar de ser equivocadamente reforçada por muitas forças de esquerda. Mas essas pílulas também são uma tentativa de aproximação do problema a partir de leituras que estou fazendo ou refazendo. Acho que logo, logo, também vou chegar aos equívocos e podres dos bolcheviques. Se não acontece, volte a me puxar a orelha, por favor.
    Beijo

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