Doses maiores

23 de maio de 2017

Trótski e Leminski, companheiros de exílio

Paulo Leminski escreveu uma pequena biografia de Trótski, lançada em 1986. Em 2013, a Companhia das Letras lançou “4 biografias (Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trótski)”, que a incluía.

Na introdução à edição, Alice Ruiz, viúva do poeta, explica porque Leminski teria escolhido o revolucionário russo para encerrar sua tetralogia de biografias:

Trótski serve de pretexto para que Paulo coloque sua visão, sua leitura pessoal sobre a Revolução Russa e sobre a própria ideia de revolução. Mas por que Trótski e não qualquer outro mais afortunado? Seria por sua fecunda habilidade com as palavras, por ser ele o mais intelectual de todos, por seu afastamento do poder, por sua participação na revolução? A soma de tudo isso e algo mais fez com que, apesar de anarquista, o eslavo Leminski escolhesse Trótski. Além da afinidade com o pensamento político e da profunda reflexão ideológica contida nesse trabalho, que Paulo considerava a chave de ouro para sua série de biografias, havia algo mais que o identificava com Trótski: o sentimento do exílio. Trótski exilado da terra pela qual lutou é Moisés impedido de entrar na terra prometida que ele ajudou a encontrar.

Paulo Leminski, a quem não interessava nada que não contivesse ideias e poesia, viveu nessa vida como um exilado. Como alguém que está fora do seu verdadeiro habitat. E precisa reinventar, através de signos, símbolos, sonhos e palavras, um simulacro mais próximo de seu conceito de vida. A poesia é como uma testemunha desse estranhamento.

Mas a biografia escrita por Leminski também é um brilhante resumo da história da Revolução Russa. Voltaremos a ela.

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