Doses maiores

13 de dezembro de 2017

Tudo o que é sólido termina em exploração

“Capitalismo sem capital” é o nome de um recente livro publicado pelos britânicos Jonathan Haskel e Stian Westlake. Ainda sem edição no Brasil, a obra foi comentada por John Harris, em artigo reproduzido pelo portal IHU-Online.

Harris cita a famosa frase “Tudo o que é sólido desmancha no ar” para explicar o fenômeno que dá nome ao livro. Segundo ele, a nova economia dos aplicativos seria a melhor demonstração daquela passagem do Manifesto Comunista.

Afinal, a Airbnb não tem imóveis, o Alibaba não tem estoque e a Uber não tem automóveis, diz o artigo. Seriam exemplos perfeitos de capitalismo sem capital. Da crescente economia de bens intangíveis.

Mas, se realmente Haskel e Westlake utilizam como referência Marx e Engels, não entenderam nada de sua obra.

Primeiro, quando o Manifesto afirma que tudo que é sólido desmancha no ar, está se referindo à consolidação do capitalismo, não a seu desaparecimento. Airbnb, Alibaba e Uber são radicalizações dessa tendência, não sua negação.

Em segundo lugar, em “O Capital”, Marx deixou claro: “O capital não é uma coisa, mas uma relação social”.

A mercadoria mais valiosa na produção capitalista é a força-de-trabalho. Integrada à massa de forças-de-trabalho do conjunto dos trabalhadores, ela torna-se o mais intangível dos bens.

É exatamente esta intangibilidade da força-de-trabalho que permite esconder sua exploração como fundamento maior da sociedade atual.

Na verdade, a única coisa realmente sólida no capitalismo tem sido a exploração de uma maioria que só aumenta por uma minoria cada vez menor.

Mas Harris tem razão numa coisa. A atual fase do capitalismo “provavelmente disseminará incerteza e agitação como nunca”.

Leia também: Marx e Engels 4.0

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