Doses maiores

4 de julho de 2018

O fascismo como palavrão

Em seu livro “O que é fascismo? - e outros ensaios”, George Orwell começa por responder a pergunta do título assim:

...se examinar a imprensa, você verá que não existe quase nenhum grupo de pessoas — certamente não um partido político nem um corpo organizado de nenhum tipo — que não tenha sido denunciado como fascista durante os últimos dez anos.

Orwell afirma ter visto o termo ser “aplicado com toda a seriedade aos mais variados grupos de pessoas”. Entre eles, conservadores, socialistas, comunistas, anarquistas e trostkistas. Cita, ainda, católicos, pacifistas, militaristas e nacionalistas.

O autor também diz ter ouvido serem chamados de fascistas os agricultores, os lojistas, o castigo corporal, a caça à raposa, os homossexuais, a astrologia, as mulheres, os cães e “não sei o que mais”.

O fato, diz ele, é que “todo aquele que indiscriminadamente lança a palavra ‘fascista’ em todas as direções está agregando a ela alguma medida de significado emocional”.

Mas quanto a ter uma definição clara e aceita por todos, Orwell responde que:

...não teremos uma — ainda não, pelo menos. Explicar a razão disso é algo que levaria muito tempo, mas basicamente é porque é impossível definir satisfatoriamente fascismo sem admitir coisas que nem os próprios fascistas, nem os conservadores, nem socialistas de nenhum matiz querem admitir. Tudo que se pode fazer no momento é usar a palavra com certa medida de circunspecção e não, como usualmente se faz, degradá-la ao nível de um palavrão.

Não ajudou muito, certo? Pois é. Mas o fato de que um qualificativo tão indefinido seja quase sempre utilizado como ofensa já diz muito sobre ele.

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