Doses maiores

17 de agosto de 2018

Os subterrâneos do abolicionismo estadunidense

“The Underground Railroad: Os caminhos para a Liberdade” é um belo livro de Colson Whitehead. Ganhador do Pulitzer 2017, descreve em linguagem metafórica a rede de apoio à fuga de negros da escravidão do sul estadunidense no século 19.

Seguem abaixo algumas das muitas passagens bonitas e doloridas da obra:

Terra e pretos para cuidar dela eram uma caução melhor do que qualquer banco poderia oferecer. Terrance era mais ativo, sempre bolando planos para aumentar os carregamentos que eram mandados a Nova Orleans. Ele extraía cada dólar possível. Quando o sangue dos pretos era dinheiro, o homem de negócios experiente sabia perfurar a veia.

Preciosos momentos minúsculos:

Às vezes um escravo se perde num breve redemoinho de libertação. No movimento de um suave devaneio entre os sulcos da lavoura ou desenredando os mistérios de um sonho ocorrido de manhãzinha. No meio de uma música numa noite cálida de domingo. E então vinha, sempre: o grito do feitor, o chamado para trabalhar, a sombra do senhor, o lembrete de que ela é um ser humano apenas por um minúsculo momento numa eternidade de servidão.

Sobre o desejo de fugir:

...todo escravo pensa nisso. De manhã e de tarde e de noite. Sonha com isso. Todo sonho é um sonho de fuga, mesmo se não parece. Mesmo quando era um sonho de sapatos novos.

A música em meio à servidão:

Bata palmas, dobre os cotovelos, balance os quadris. Há instrumentos e músicos, mas às vezes um violino ou um tambor fazem aqueles que os tocam de instrumentos, e todos são escravizados pela música.

E viva Aretha Franklin!

Nenhum comentário:

Postar um comentário