“É pau, é pedra, é o fim do caminho”. Mas, não são as “Águas de março”, de Tom Jobim. São as enchentes mais do que anunciadas do começo do ano. Desta vez, parece que a tragédia maior acontece em Teresópolis, na região serrana do Rio. Até agora, são mais de 70 mortos.
Autoridades e grande imprensa culpam o “lixo produzido pela população”. Os sofás velhos são sempre citados. Eles entopem os córregos e provocam as tragédias, dizem. Se fosse assim, seríamos um dos povos que mais fabrica e descarta estofados no mundo.
Na melhor das hipóteses, reportagens culpam a impermeabilização do solo. Com destaque para asfalto e concreto cobrindo as antigas várzeas dos rios. Responsáveis por absorver a água, elas se transformaram em avenidas, estradas, empresas, shoppings etc.
Mas, a informação é sempre genérica. As “autoridades” é que vêm permitindo esse processo há décadas, dizem. O poder econômico do grande capital, maior responsável pela eleição e manutenção das tais “autoridades”, nunca é citado.
“Choveu 89% do que deveria chover em todo o mês...” é outra alegação comum. Como se fenômenos meteorológicos obedecessem a médias estatísticas. “O clima está descontrolado”, dizem. Como se o descontrole não fosse causado pela presença humana no planeta. Uma ocupação cuja única racionalidade é a busca cega por lucros, devidamente ignorada pela natureza.
Infelizmente, o prejuízo não é generalizado. Em geral, tragédias como essas são ótimas oportunidades. Limpam morros e várzeas de moradores indesejados. São oportunidades para contratar obras públicas caras. Pretextos para “choques de ordem” que têm pobres e negros como alvos. Sem falar na grande audiência para TVs e rádios.
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