Doses maiores

29 de setembro de 2011

As duas posses de Evo Morales

Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia duas vezes. Em cada uma delas, houve duas cerimônias de posse. A primeira, celebrada segundo rituais indígenas. A segunda, no parlamento do País, seguindo formalidades herdadas do colonizador.

Os dois rituais mostram a dualidade do governo Evo. De um lado, a chegada ao poder a partir de um movimento popular vindo de baixo. De outro, esse mesmo poder domesticando as forças populares na figura de seu maior representante.

Essa contradição leva o governo a vários choques com sua base de sustentação. O episódio mais recente envolveu protestos contra a construção de uma rodovia que atravessará um milhão de hectares de território indígena. Obra financiada pelo capital brasileiro, vergonhosamente apoiada por Lula.

As manifestações aconteceram no domingo, 25/09. Foram violentamente reprimidas por tropas do governo. Quase 300 manifestantes foram presos. O que levou a novos protestos, incluindo a convocação de uma greve geral. A ministra da Defesa pediu demissão. Morales acabou suspendendo as obras temporariamente.

Tudo isso mostra os limites estreitos de conquistas feitas no campo da legalidade controlada pelos poderosos. A vitória de Evo desagradou a minoria branca, mas cobra um alto preço. O da adoção de uma lógica em que não há espaço para o respeito aos valores e interesses dos explorados.

A posse que realmente valeu não foi a que seguiu as tradições indígenas. O socialismo no século 21 é mais necessário do que nunca. De cima para baixo, jamais vai funcionar.

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