Doses maiores

4 de junho de 2013

A gravidade do caso Angelina Jolie

A decisão de Angelina Jolie de retirar as mamas merece todo o respeito. Mas é preciso lembrar o enorme peso das decisões tomadas por uma estrela mundial.

A grande imprensa tratou o caso com pouco rigor e muito sentimentalismo. Felizmente, há quem aborde a situação com mais lucidez. É o que fez Bernardo Pilotto, por exemplo. Ele publicou o artigo “Angelina Jolie e o preventivismo liberal” em sua página na internete. O texto lembra a tradicional polarização no debate sobre a saúde pública, entre prevenção e cura.

Do ponto de vista dos interesses da grande maioria da população, privilegiar a medicina preventiva traz resultados sociais muito mais relevantes. Já a prática curativa costuma fazer a alegria das grandes empresas de medicina privada e medicamentos.

O problema é que atitudes como a de Angelina tendem a valorizar uma prevenção paranoica e individualista, saudável apenas para o mercado bilionário da saúde privada. Mas pode ser ainda mais grave.

Em entrevista à revista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o médico e pesquisador Luís Castiel levantou sérias suspeitas. Segundo ele, há denúncias de que os testes aos quais Angelina foi submetida estão para ser patenteados pela empresa Myriad Genetics.

O anúncio da atriz provocou a rápida valorização das ações da empresa. Além disso, pode ter levado a opinião pública a influenciar a Suprema Corte americana a decidir em favor do direito de propriedade dos genes humanos pelas grandes corporações.

As chances de Angelina desenvolver câncer eram altas. Mas a probabilidade de que muito mais do que sua saúde esteja em jogo também é elevada.

Leia o texto de Bernardo Pilotto, aqui. E entrevista de Luís Castiel, aqui.

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