Doses maiores

27 de junho de 2013

Disputa de hegemonia em alta temperatura

As manifestações populares fazem a disputa de hegemonia ferver. Todos tentam capitalizar a insatisfação que incendeia as ruas. Mas hegemonia não é o mesmo que comando. É liderança construída pelo convencimento e pela conquista do respeito dos liderados. E desrespeito a lideranças é o que mais se sente nas ruas.

O governo federal falou muito, mas o que disse era pouco e fraco. O Congresso aprovou algumas medidas simpáticas que deverão ter poucos efeitos práticos. Governadores e prefeitos continuam cancelando aumentos de passagens, mas precisariam fazê-lo em relação a vários anos de reajustes muito acima da inflação.

A imprensa empresarial tenta assumir a condição de porta-voz moralista da indignação popular. Só consegue parecer ainda mais hipócrita e oportunista. Não à toa, milhares de vozes continuam a gritar coros de ódio à grande mídia pelas ruas e praças.

As centrais sindicais convocam manifestações, marchas e greves. Mas a maioria delas quer mesmo é defender o governo. Acabam aparecendo como parte do esforços oficiais para acalmar a situação. E a esquerda oposicionista mal consegue se diferenciar da governista. Felizmente, a extrema direita também está longe de superar seu isolamento da grande maioria dos manifestantes.

Mas nada disso quer dizer que não haja algum tipo de hegemonia. É como um ruído de fundo. Um zumbido ensurdecedor que acumula séculos de conservadorismo, desigualdade, racismo, violência estatal. Não podemos desprezar a histórica competência de nossa classe dominante para mudar aparências mantendo intacta a essência de sua dominação.

De qualquer modo, o povo nas ruas ainda representa nossa melhor chance. É a temperatura ideal para lutar. E para aprender.

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