Doses maiores

24 de maio de 2016

Sobre golpes e contragolpes

Uma grande questão na luta contra o golpe é saber de que golpe se trata. Muitos petistas tentam compará-lo à intervenção militar de 1964.

Mas o fato é que não há qualquer sinal de manobras militares, fechamento de partidos, cassação de mandatos, intervenções em sindicatos.

Outra diferença marcante foi evidenciada pelo recente episódio envolvendo a gravação de Romero Jucá. As especulações sobre a quem interessa sua divulgação são muitas.

É verdade que a gravação incriminadora poderia vir a público antes da votação da admissibilidade do impeachment. Mas por que divulgá-la, agora, quando o julgamento nem se iniciou?

Se a intenção era diminuir ou estancar as investigações da Lava-Jato, o surgimento do grampo obrigou seus responsáveis a negar publicamente essa intenção. O que pode ser fatal para um governo cheio de suspeitos à beira de se tornarem réus.

Tudo isso indica que há sérias divisões na classe dominante. São projetos mesquinhos, mas que não conseguem se compatibilizar nem contam com uma força capaz de fazê-lo, como os militares de 1964.

A comparação com 64, porém, serve para que os petistas alarmem as forças populares e consigam apoio incondicional a seu projeto.

Mas qual projeto? Aquele que começou pela nomeação de Joaquim Levy? O mesmo que seria continuado por Meirelles, substituto de Lula para o lugar de Levy?

A “autocrítica” divulgada pelo PT não ajuda. Insiste em falar em “disciplina fiscal”, por exemplo. E continua achando que é possível controlar um Estado montado para servir à classe dominante.

Ou seja, outra grande questão importante na luta contra o golpe é saber se ela inclui o combate ao PT.

Leia também: O 18 brumário de Michel Temer

3 comentários:

  1. Muito boas análises e dúvidas. Proposições instigantes.
    Isso, esse golpe é outro. E mais, o governo Goulart era bem outro, e diga-se de passagem bem melhor: consequente, avançado e até revolucionário se comparado com o Lula e PT. Isso, não dá para ficar evocando falsas manobras militares.
    Onde se dá esta divisão nas classes dominantes, queria saber mais.
    Por fim, é como se colocar diante do golpe. Ou seja, nela inclui o PT? Tenho pensado muito nisso.
    Valeu. Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Me parece que a divisão na classe dominante está na dificuldade de combinar as várias ambições. A começar entre PMDB e PSDB. Serra estaria por trás da queda de Jucá para ficar como ministro do Planejamento. Mas nem isto é consensual entre os tucanos, que teriam Aécio e Alckmin como concorrentes de Serra. E tanto a grande imprensa, como setores do Estado como o STF e a Lava-Jato também não conseguem costurar um projeto para muito além de barrar o PT. E este, por sua vez, está tão enredado nessa confusão toda que ainda pode se manter como proposta para alguns setores das classes dominantes. Ou seja, que puta confusão!

      Excluir
    2. Eu havia entendido entre os interesses conflitantes do ponto de vista econômico dos setores do capital, não entre os seus representantes. Mas são muito válidas estas informações sobre este aspecto. Sim, não resta dúvida, puta confusão. Mas não acho mal, é importante para nós entendermos exatamente isso para poder agir.

      Excluir