Doses maiores

7 de dezembro de 2016

As mais recentes pizzas de Brasília

A mais recente pizza de Brasília acabou de sair dos fornos do Supremo. Crua, sem nenhum recheio ou tempero. Apesar disso, fomos obrigados a engoli-la pedaço por pedaço.

Mas há outra pizza assando. Gigantesca, aliás. Trata-se da PEC 55, do corte de gastos. O governo diz que precisa diminuir um déficit de R$ 170 bilhões, congelando os gastos públicos por 20 anos. São as Despesas Primárias, dizem governantes, parlamentares, grande mídia, barbeiros e motoristas de táxi.

É preciso congelar gastos com a máquina pública. O problema é que essas despesas, incluindo desvios, má gestão, salários acima do teto e roubalheiras, representam cerca de 1% do tal déficit. Já o pagamento dos juros da Dívida Pública é responsável por uns 80% do déficit. O restante é queda da arrecadação.

Se ainda não deu pra entender, o gráfico acima pode ajudar. Bem desenhadinho.

Mas, apesar de estar assando a todo vapor, ninguém fala dessa pizza. Será porque o pagamento dos juros da dívida alimenta uma gigantesca ciranda financeira que beneficia, no máximo, umas 70 mil pessoas em uma população de mais de 200 milhões?

Será porque cerca de 98% dos papéis da Dívida Pública estão nas tesourarias de grandes investidores, como empresas, bancos, latifundiários? A mesma minoria que financia a eleição de parlamentares e governantes em geral e anuncia nos grandes meios de comunicação?

São tantas as perguntas...

O certo é que mais uma pizza está assando. E, com certeza, todas as outras, incluindo a dos senhores juízes supremos, serviram apenas como aperitivo para esta. Deliciosa para muito poucos. Venenosa para a enorme maioria.

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