Doses maiores

6 de dezembro de 2016

Onde nascer negro é quase um crime

Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado.

Esta é a 13ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos. A regra é o fim da escravidão. Exceções, só na hipótese de crime. Para os negros americanos, a exceção virou regra.

Os homens negros representam cerca de 6,5% dos estadunidenses, mas são mais de 40% da população carcerária.

Afinal, num país dominado por racistas, nascer negro, ou não branco, é meio caminho para ser considerado criminoso. A chance de um branco ser preso é uma em 17. Para um negro, uma em três.

Tudo isso está no documentário “13ª Emenda”, de Ava DuVernay. A excelente produção denuncia o encarceramento em massa dos negros americanos. Uma política iniciada por Reagan, mas mantida e reforçada pelos sucessores, incluindo Clinton e Obama.

O filma revela uma sociedade cuja principal forma de relação com os ancestrais daqueles que foram trazidos escravizados para a América inclui linchamentos, condenações ilegais e execuções por policiais.

São inúmeras as terríveis consequências sociais dessa realidade. Mas uma delas é colocar grande parte dos negros na ilegalidade política. Uma simples ocorrência de trânsito pode levar à perda do direito de votar.

No estado do Alabama, por exemplo, 30% da população não pode votar. Quase todos negros, à mercê de uma polícia quase toda branca.

Daí, a vitória de gente como Trump ser regra e a eleição de Obama, rara exceção. E por sua cumplicidade diante dessa realidade, uma exceção, esta sim, criminosa.

Leia também: O massacre dos lanceiros negros

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