Doses maiores

5 de fevereiro de 2018

A grandeza e a tragédia da Revolução Russa

O livro “O Ano I da Revolução Russa”, de Victor Serge, ficou famoso por homenagear os acontecimentos de 1917 sem perder o olhar crítico. Mas o trecho que, talvez, melhor represente o que ele pensava da Revolução está numa carta publicada na revista estadunidense “New International”, em 1939:

É comum dizer que “o germe de todo o estalinismo estava no bolchevismo já em seu início". Não faço objeções. Mas o bolchevismo continha outros germes, uma grande quantidade de outros germes, e quem vivenciou o entusiasmo dos primeiros anos da primeira revolução socialista bem sucedida não pode esquecê-la. É sensato julgar o homem vivo pelos germes que a autópsia revela em seu cadáver, e que podem estar dentro dele desde o seu nascimento?

O soviético Vassili Grossman terminou de escrever “Vida e Destino” em 1960. Considerada uma espécie de “Guerra e Paz” da Segunda Guerra, a obra relata tanto os horrores nazistas, como os crimes stalinistas. Por isso, o livro ficou proibido até depois de sua morte, em 1964. O trecho abaixo ajuda a entender porque:

Havia sido arrancado o couro do corpo vivo da revolução, e um novo tempo queria se vestir com ele, enquanto a carne viva e ensanguentada, as entranhas fumegantes da revolução proletária iam para o lixo, o novo tempo não precisava delas. Precisava da pele da revolução, essa casca era arrancada das pessoas vivas. Os que se cobriam com a pele da revolução falavam suas palavras e repetiam seus gestos, mas possuíam outro cérebro, outros pulmões, fígado, olhos.

A inspirar os dois trechos, o mesmo evento histórico. Imenso e trágico.

Leia também: 1917: uma revolução não tão sangrenta

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